tenho medo
Tenho medo.
Tenho medo,
que te canses de mim,
e da minha existência.
Tenho medo,
que te fartes de mim,
ou da minha aparência.
Tenho medo,
de ser uma fraude.
Eu juro que tento não te enganar.
Juro que tento evitar.
Tenho medo,
de me perder num tempo
que não era o teu,
nem o meu
e muito menos o nosso.
Que acordes de um sonho
que não estavas a sonhar.
Que te faça sentido
viver outra história,
noutro lugar.
Que sintas ser demais,
aguentar.
Tenho medo.
Acordo com medo,
vivo com medo,
adormeço com ele.
E se te perderes
nas incertezas do estar?
E se não conseguires ficar?
Não temos saída.
Não há indicações
da partida,
largada,
fugida.
Somos nós,
é uma crença.
Somos nós e a certeza
que abandona,
quando vê afastados
dois corações.
Que se querem,
mas não podem,
querem,
mas não agora.
Não amanhã,
nem depois.
Que se querem.
E continuam a querer,
sabem como,
mas não sabem onde
nem quando vão poder.
Tenho medo.
Porque te quero aqui
e não sinto o teu beijo.
Tenho medo.
Porque te quero para mim.
Tenho medo.
Porque não te vejo.